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Osciloscópio 2 - Considerações importantes

O uso do osciloscópio vai além da simples aquisição da imagem do sinal. Existem situações em que não basta comprovar a existência do sinal, precisamos ir mais fundo e realçar pequenos detalhes da curva visualizada para elucidar a medição que desejamos.
Sendo mais que mero expectador e interagindo com o equipamento, melhores resultados serão obtidos.

Enganam-se aqueles que pensam que o ajuste padrão do equipamento e uma coleção de imagens de sinais são suficientes para obter um diagnóstico eficaz com o osciloscópio.

Oscilograma primário da bobina de ignição - visualização de detalhe
Solucionar problemas com osciloscópio requer mais do que isso, antes de tudo é necessário levantar hipóteses prováveis que se relacione com sintoma apresentado no veículo. Portanto, conhecer profundamente detalhes sobre o funcionamento do componente e sua ação dentro do sistema é indispensável. De outra maneira não saberíamos o que está correto e tão pouco seria possível associar diferenças causadas pela falha ou por variantes que ocorrem devido ao ajuste do equipamento e interferências inerentes da rede elétrica do veículo. 

O osciloscópio é empregado quando não há outro recurso que permita visualizar a hipótese de defeito sugerido ou que recursos contidos tornem o diagnóstico mais fácil e eficiente.

Testar um potenciômetro com o osciloscópio, por exemplo, é mais eficiente que medir a resistência ou a tensão do sinal, pois podem ser percebidas pequenas falhas difíceis de serem detectadas com o multímetro.
Recentemente tive uma experiência em que o osciloscópio se revelou uma ferramenta eficiente ao detectar um defeito na rede CAN. Era impossível a comunicação com o “scanner” através da rede CAN e a tensão medida na rede com o multímetro estava coerente, porém ao visualizar o sinal com o osciloscópio notou-se que os dois canais apresentavam sinais idênticos. Com base no conhecimento prévio pôde ser deduzido que havia um curto circuito entre as linhas CAN-Hi e CAN-Lo.

 Muitos podem argumentar que se tivesse a imagem gravada e rotulada – “Rede CAN em curto circuito” - seria fácil identificar a falha.
Meu maior argumento é que conhecer a teoria torna possível o reconhecimento da falha. Além disso, peculiaridades em uma falha poderiam conter diferenças que causariam dúvidas e se sabe lá quantas imagens distintas seria possível desenhar.

É certo que podemos estudar e reunir poucos oscilogramas teóricos, já oscilogramas de defeitos e seus atributos, por sua infinidade, é praticamente inviável.

Veja também:
Verificação de sincronismo da correia dentada com osciloscópio
Entenda a curva dos sensores de pressão absoluta
Energia de ignição e alta tensão

Bê-a-bá da Ignição eletrônica transistorizada TSZi

Os leitores que acompanham os comentários do blog podem perceber que a idéia central é a incessante busca por melhorar a desempenho da ignição seja para um carro antigo ou um “fora de série”. Entretanto, entender certos detalhes e limitações de cada sistema é primordial para obter os resultados esperados.

A ignição eletrônica transistorizada TSZi, fabricado pela Bosch, certamente é um dos sistemas mais populares, ainda hoje. Com este tópico vou abordar elementos importantíssimos, tendo como base o módulo TSZi com final 004 e bobina de ignição final KW067 da Bosch, cuja informação é vital para o domínio de qualquer sistema de ignição.

Afirmar que a bobina de ignição alcança 28.000 V só é verdadeiro sob certas condições, pois os valores reais em um veículo são afetados pela instalação elétrica, qualidade e o estado da isolação dos cabos, velas, rotor e tampa do distribuidor, tensão do alternador/bateria, rotação do motor, como verá a seguir.  
No esquema elétrico acima, recomendado para este sistema, temos o transistor do módulo na função de chave para ligar e desligar a bobina sob comando do sensor do distribuidor, e funcionalidades do módulo. A corrente máxima que circula no enrolamento primário da bobina é limitada pelo pré-resistor, pela queda de tensão no transistor e no chicote elétrico.
Assim a corrente circulante é suportável para a bobina, ao manter a ignição ligada com o motor parado, já que neste sistema não está previsto o desligamento automático do transistor sob esta condição.
   
Durante a partida a tensão da bateria cai cerca de até 3,5 Volts. Para que não haja prejuízo na geração de alta tensão, com a baixa circulação de corrente no primário da bobina, um contato auxiliar inserido na chave magnética do motor de partida (borne 15 a) faz uma ponte entre o positivo da bateria e borne de alimentação 15 da bobina, anulando o pré-resistor. Sem este componente o motor não “pegaria” em condições mais desfavoráveis, como por exemplo, com baixa temperatura.
Caso não exista contato auxiliar no motor de partida, é necessário usar um relê auxiliar comandado pela linha 50, de modo a alimentar o borne 15 da bobina com a tensão direta da bateria.

Com o motor funcionando, a corrente no enrolamento primário da bobina aumenta proporcionalmente ao aumento de tensão imposto pelo alternador, cerca de 2 Volts, proporcionando maior rendimento de alta tensão no secundário da bobina.  

O oscilograma a seguir mostra a evolução da tensão no borne 15 e borne 1 da bobina de ignição. Em destaque está o valor obtido no final do ciclo, momento de abertura do transistor, aprox. 7,5 Volts no borne 15 é 1,5 Volts no borne 1.
Tensão borne 15 e borne 1, TSZi
Além disso, temos que considerar as características construtivas do módulo, cujo tempo de conexão da bobina (duty cycle - ciclo ativo ou de trabalho) varia de acordo com a rotação do motor, veja tabela abaixo. 

Rotação motor 4 cil. (rpm)
900
1800
2700
3600
4800
6000
Ciclo ativo (milissegundos)
15,60
8,30
5,40
4,04
3,00
2,50

Em alta rotação o ciclo ativo é mais curto. Como visto em outras matérias do blog, ciclos ativos curtos significam correntes primárias mais baixas, que por sua vez reduz o nível de alta tensão no secundário da bobina.

Os oscilogramas abaixo ilustram o nível de alta tensão médio gerados pelo sistema TSZi com módulo 004 x bobina 067, com carga resistiva de 1,18 MOhms no secundário e tensão de alimentação de 11,8 V.
A tensão máxima decresce com o aumento da rotação. A duração do impulso de alta tensão é cerca de 175 ms (microssegundo). 
Pulso de alta tensão com carga de resistiva. 18kV, 4940 rpm, alimentação 11,8 V
Nas medições efetuadas aqui se estima que cada Volt no primário diminua ou aumenta em torno de 3 kV a tensão do secundário. Por exemplo, no primeiro oscilograma temos 22,3 kV a 900 rpm com tensão de alimentação de 11,8 Volts. Com uma tensão de alimentação de 13,8 V teríamos um rendimento maior, em torno de 28,3 kV. Já durante a partida uma queda de 3,5 V na alimentação resultaria uma perda 10,5 kV, ou seja, a bobina alcançaria cerca de 18 kV. Já sem o auxiliar de partida isto poderia cair para 12 kV e seria insuficiente para saltar faísca na vela, conforme o caso.

Espero que esta matéria apóie alguns comentários enviados pelos leitores, e também, contribua para construir a base de entendimento dos sistemas de ignição.

Ignição eletrônica com platinado

Adaptar um sistema de ignição eletrônico completo em carro antigo é bastante complicado, nem sempre há disponibilidade de componentes apropriados, por isto, muitas vezes o distribuidor e o platinado ainda são usados.
Sistema de ignição eletrônica indutiva com platinado
 Com alguns componentes baratos podemos construir um circuito que permite comandar módulo de ignição indutivo com o platinado.
A idéia, no mínimo inédita, além de invocar o conhecimento técnico funciona de maneira satisfatória no carro. Além disso, este circuito é a base para construir um gerador de pulso para teste deste tipo de módulo.

Recordando: No módulo indutivo a faísca na vela se dá no momento em que o sinal da bobina impulsora se torna negativo e desliga o transistor, e por sua vez a bobina de ignição. 
O circuito esquematizado abaixo tem como objetivo gerar um sinal de tensão com polaridade negativa, no momento da abertura do platinado, para comandar o módulo indutivo.
Ignição
circuito conversor de sinal
placa de circuito
placa de circuito montada
 Peças: capacitor eletrolítico de 1mf-25V, resistores de 1k-1/4W, demais resistores 1/8W, diodos vide esquema, fios de ligação 0,8 mm2, transistor de uso geral BC546 ou similar.  


O circuito foi testado com módulos de ignição indutivos da Bosch final 0.003/4, em jipes com motor de 4 cilindros. O ajuste do ângulo de permanência do platinado deve ser de 45 graus/4 cil. e não há necessidade de desconectar o capacitor original do distribuidor.


O módulo transistorizado possibilita o uso de uma bobina de ignição de alta potência, comutando corrente elétrica além do que seria suportado pelo platinado.
Embora a durabilidade do platinado seja prolongada ainda requer ajuste/troca periódica devido a desgaste mecânico.  

Veja também:

Entenda a curva dos Sensores de pressão absoluta

Frequentemente deparamos com a necessidade de verificar o sinal de um sensor em um regime do qual não temos o valor para aferição.
O que fazer?

A dependência recíproca entre duas grandezas nada mais é do que uma função matemática, e com alguma informação é possível obter a expressão matemática que reina sobre os parâmetros do sensor.

Por hora vou mencionar somente a função linear, uma linha reta, a curva característica apresentada pelos sensores de pressão absoluta usados para medir e ou regular a pressão de combustível, pressão do óleo do motor, pressão do coletor de admissão motores ciclo Diesel e Otto, etc.

Para esta função vale a expressão matemática:

y  = a . x  + b

Tomando como exemplo o sensor de alta pressão de combustível (pressão rail) em um veículo Diesel onde se deseja aferir a tensão que entrega o sensor a 1300 bar. Sabe-se que a tensão do sinal é de 0,5 V com pressão zero (P1) e de 1,41 V a 350 Bar (P2). Veja o gráfico abaixo:
 Para U = f (P) onde P é a variável independente e U é a variável dependente.

Sendo o eixo y o da tensão e o eixo x para pressão, podemos reescrever a relação da expressão como segue e encontrar os coeficientes a e b que reina sobre os valores para este sensor.

U = a . P  +  b

U – tensão do sinal em Volts e P - pressão em bar.

Para P1 = 0  => U = a . P1 + b => 0,5 = 0 + b => 0,5 = b

b é chamado de coeficiente linear da reta, é a ordenada onde a reta cruza o eixo y.

Substituindo os valores para P2 na expressão temos:

U = a . P2 + 0,5 => 1,41 = a . 350 + 0,5 => a = 0,00266

a é chamado coeficiente angular da reta ou taxa de crescimento do sinal (V/bar).

Logo, para se determinar qualquer outro ponto da reta basta usar a fórmula:

U = P . 0,00266 + 0,5

Portanto, para 1300 bar teremos:  U = 1300 . 0,00266 + 0,5 = 3,95 V.

Como demonstrado, a matemática é uma ótima ferramenta para construir ou acrescentar parâmetros a uma tabela de teste.
Esta função se aplica ainda a qualquer sensor cuja curva do sinal é linear.
Entretanto se a intimidade com esta matéria não lhe cai bem, aguarde por mais dicas a este respeito.

Veja também:

Adaptação de bobina de ignição: mito x realidade

É imenso o número de consultas que recebo a respeito de bobinas de ignição e módulos, certamente devido aos transtornos que causam no dia a dia de uma oficina ou mesmo para o proprietário do veículo.

Popularizada como sendo a melhor para queimar a mistura ar/combustível e gerar mais de 45.000 Volts a adaptação da bobina do gol e outras similares são comumente usada por adeptos que desejam melhorar o desempenho do sistema de ignição de motores preparados, antigos e jipes. Mito ou realidade?

Relatando as medições feitas com o módulo de ignição Bosch final 7 003 com a bobina 1 067, recomendada pela Bosch, e com a bobina do gol 1 504 usualmente empregada nas adaptações, além de embasamentos teóricos, espero esclarecer alguns questionamentos que aflige o técnico.
 
Em que diferencia a bobina de ignição?

Energia de ignição e alta tensão

Faísca salta 15 mm, bobina KW067 Bosch
Sabe-se que a quantidade de energia transmitida à faísca da vela de ignição deve ser suficientemente alta para queimar o combustível no interior dos cilindros do motor. Uma bobina de ignição que forneça 45.000 Volts parece ser ideal! Más, quanta energia e quanto de alta tensão são necessários.

Vejamos os parâmetros na imagem da alta tensão secundária da bobina de ignição mostrada abaixo:
Imagem secundário da bobina de ignição

  • A tensão de ignição ou disruptiva, aquela necessária para romper o espaço entre os eletrodos da vela (1) é de 6 a 20 kV (1 kV = 1.000 V).
  •  Com a ignição se estabelece a circulação de corrente, e a carga imposta pelo circuito secundário (cabos, rotor, tampa, vela...) rebaixa a tensão a níveis (4) que variam entre 1 a 5 kV, conhecido como: tensão de combustão.
  •  A quantidade de energia armazenada na bobina deve ser suficiente para a faísca durar (3) entre 0,6 a 1,5 milissegundos em marcha lenta. Em alta rotação este tempo é mais reduzido. Neste momento a energia da faísca se destina à queima do combustível, por isso é comumente chamado de tempo de queima ou simplesmente de duração da faísca.
  • Antes da extinção total da energia na bobina a faísca na vela é interrompida e a carga residual é convertida em outras formas de energia.
  • Sem energia a tensão permanece próxima de zero até iniciar uma nova carga na bobina (5). O período (2) corresponde ao tempo de carga ou ângulo de permanência.
Abertura do eletrodo da vela acima de 0,8 mm ou desgastado, com perfis arredondados aumentará a necessidade de alta tensão (1) para saltar a faísca, elevará tensão de combustão (4) e consequentemente consumirá mais energia da bobina, reduzindo o tempo de queima (3). Em condições extremas, aceleração brusca, partida a frio e alta rotação, darão lugar a: falta de potência no motor, falhas ao acelerar, dificuldade para pegar, que refletirão no consumo de combustível, emissões poluentes e danos na isolação de cabos de ignição, tampa, rotor, e bobina.

O excesso de resistência dos cabos de ignição, vela e rotor do distribuidor aumenta a tensão de combustão (4) e diminui o tempo de duração da faísca (3) 

Em condições extremas de desgastes ou abertura excessiva do eletrodo da vela de ignição a faísca não saltará entre os eletrodos da vela, veja figura ao lado, e a alta tensão gerada no secundário da bobina irá atingir o máximo da sua capacidade no circuito, neste caso 36.000 Volts. Fuga de corrente nos cabos, tampa, rotor e vela, podem reduzir o pico máximo de alta tensão, entretanto se este valor não superar a 26.000 V, a falha estará na própria bobina ou no seu comando (UC ou platinado). 
Os parâmetros citados no gráfico atendem as necessidades de um motor normal, regulado e em boas condições mecânicas.  

Agora podemos refletir sobre energia e alta tensão. Por que usar uma bobina de 45.000 Volts?

A primeira coisa em que pensar é: 45.000 Volts com carga ou em vazio? Veja na figura acima que a bobina pode gerar 36.000 V supostamente com pouca fuga de corrente (entenda-se carga) no sistema. Como mencionado este valor pode cair para 26.000 V se houvesse fuga através do cabo de ignição que estivesse sujo, molhado, com baixa isolação, vela carbonizada, com fuga no isolador, etc.
Esta mesma bobina na bancada pode perfeitamente saltar 16 mm em um centelhador dor ao ar livre, como na foto, supostamente gerando em torno de 40.000 Volts.

Isto quer dizer que podemos obter infinitas tensões na bobina de ignição, simplesmente variando o parâmetro de carga, tensão de alimentação, temperatura de trabalho, freqüência (número de faíscas por minuto). Somente uma especificação inequívoca nos dará a certeza que uma determinada bobina pode ser mais potente que outra. Além disso, a física é o limite, é impossível ir além dos seus preceitos.   

Atualmente, as bobinas com suas respectivas unidades eletrônicas podem fornecer de 28 a 30 kV, sob cargas (corrente de fuga) normalizadas, em quase todo regime previsto para um motor de quatro cilindros, assegurando energia mais que suficiente para garantir a queima do combustível e ainda prolongar a vida útil da vela de ignição.
Não se justifica um aumento de alta tensão com a finalidade de compensar uma deficiência na conservação do motor e seus sistemas.

Nos motores de alta rotação com seis cilindros ou mais, com distribuidor, a disponibilidade de tempo para armazenar energia na bobina é escassa, exigindo um sistema de ignição bastante eficiente, sem, entretanto extrapolar o limite de 30 kV.

No sistema flex fuel, por exemplo, aperfeiçoamentos permitiram manter os níveis atuais de demanda de alta tensão no motor.

Motores “tunados” certamente fugirão deste padrão, um caso a parte.

Há ainda quem queira abrir mais os eletrodos da vela com o intuito de “melhorar” a queima, o que certamente requererá um aumento de alta tensão e mais energia da bobina de ignição. Más, será que é realmente necessário?

Links relacionados:
Saiba mais sobre bobinas e modulos de ignição
Diagrama elétrico ignição TSZ 003/004/005/006
Teste modulos de ignição indutivo 

Como se desenvolve o aquecimento na bobina de ignição

São muitas as consultas e comentários sobre bobinas de ignição esquentando. Tanto que resolvi abordar novamente este assunto sob uma nova face, agregando mais detalhes, más sem aprofundar em conceitos técnicos carregados.

Quando penso no funcionamento da bobina de ignição, imagino um dragster numa prova de arrancada, muito potente, más se o piloto não tirar o pé “frita” o motor.

Assim é na bobina de ignição, como o piloto de um dragster, o módulo de ignição pilota a corrente primária da bobina. Assim como o carro que acelera 0-100 km/h em 2,4 segundos, a corrente primária de uma bobina pode ir de 0-6 Amperes em 2 a 5 milissegundos.

O módulo é projetado para colocar a corrente necessária com a qual a bobina é capaz de gerar a alta tensão e produzir uma faísca potente na vela de ignição, más o tempo que ela fica ligada é vital para prevenir o superaquecimento.

A resistência ôhmica dos enrolamentos de uma bobina é um dos fatores que geram perdas de potência na bobina, parte da energia que não é aproveitada na faísca. Pior ainda, esta energia será convertida em calor, ou seja aquecimento para a bobina.

Sob o ponto de vista da manutenção, talvez o mais crítico em uma bobina de ignição é lado do primário, pois é onde podemos influenciar o seu funcionamento através de regulagens na ignição ou pela aplicação de módulos e bobinas. De certa forma somos responsáveis pelo bom funcionamento da bobina. 

A análise a seguir pode ajudar a entender como se desenvolve o aquecimento em uma bobina e dar subsídios para uma manutenção consciente, vejamos:

Uma bobina cuja resistência do enrolamento primário é de 0,6 Ohms, se ligada permanentemente sob a tensão de 12 V, será percorrida por uma corrente tão alta que certamente causará a sua queima instantaneamente.

Segundo a lei de Ohm, podemos calculara a corrente e a potência que ela deverá dissipar:

I = U/R = 12/0,6 = 20 A

P = R x I² = 0,6 x 20² = 240 W

P = potência em Watt
U = Tensão em Volt
R = Resistência em Ohm
I = Corrente  em Amperes

Sabemos em média a corrente das bobinas são limitadas a 6 Amperes. Façamos então a analise com este valor, digamos que 6 A sejam suficiente para gerar a alta tensão e a energia na faísca, e colocamos um módulo de ignição que limite exatamente este valor de corrente. Até ai parece perfeito, entretanto se não houvesse o corte de corrente quando a chave de ignição permanecesse ligada com o motor parado, a potência dissipada em forma de calor no primário seria:

P = R x I² = 0,6 x 6² = 0,6 x 36 = 21,6 W

Embora isso represente 9 % do valor inicial, a potência é suficiente, caso não se dissipe o calor gerado, para elevar a temperatura a níveis que causaria a queima da bobina, é somente uma questão de tempo.

Em funcionamento normal a bobina trabalha com pulsos que medimos com a grandeza que chamamos de ângulo de permanência ou duty cycle. Em outras palavras, se o ângulo de permanência é de 5 ms, então podemos afirmar que somente neste intervalo de tempo haverá conversão de energia em calor.

Para determinar esta quantidade de energia, tomamos como exemplo um motor de 4 cil com distribuidor de ignição.
A 1000 rpm cada ciclo da bobina dura 30 ms. Com a permanência ou tempo que a bobina fica ligada de 5 ms, teremos:

Permanência % = t / T x 100
Permanência = 5 / 30 x 100 = 17 %

t = permanência em milissegundos
T = período

O ciclo ativo da bobina de aproximadamente 17% do ciclo total.

Se a corrente fosse de 6 A durante todo este intervalo de tempo, a potência aquecedora seria algo como 17 % do valor total.

P = R x I² x 17/100  
P = 0,6 x 36 x 17/100 = 3,7 W.

Corrente primário da bobina de ignição a 1000 rpm
Porém, como podemos observar no gráfico de corrente do primário, a corrente sobe paulatinamente, portanto a potência real dissipada corresponde somente à área pintada de azul o qual podemos estimar como sendo aproximadamente metade de um retângulo imaginário formado pelo pico da corrente no intervalo de 0-5 ms, ou seja, a potência geradora de calor é de aproximadamente:

50 % de 3,7 W = 1,9 W.

Com o aumento da rotação, ao manter os 5 ms de permanência,  a potência geradora de calor crescerá consideravelmente.
A 4000 rpm, por exemplo, a duração de cada ciclo da bobina será de 7,5 ms, portanto a bobina ficará ligada 67 % do tempo, vejam o cálculo abaixo:

Permanência % = t / T x 100
Permanência = 5 / 7,5 x 100 = 67 %

Isto nos dá uma potência térmica de:

P = R x I² x 67/100
P = 0,6 x 36 x 67/100 = 14,5 W.
Corrente primário da bobina de ignição a 4000 rpm
Usando o raciocínio anterior para estimar a potencia real através do gráfico de comportamento da corrente, teremos uma potencia geradora de calor em torno de 8 W .  

Como foi visto, a perda de potência, aquela que irá gerar calor na bobina, tem uma relação estreita com a resistência, com a corrente e o ângulo de permanência, elementos que podem ser facilmente influenciado pelo técnico, através da regulagem do ângulo de permanência, pelo uso de bobinas ou módulos de ignição incompatíveis, tensão de alimentação da bobina ou pela alteração do pré-resitor.

Entretanto, não se esqueça de considerar outros elementos que também contribui para o aumento da temperatura na bobina, como perdas devido à resistência do enrolamento secundário, curto circuitos no enrolamento da bobina, calor ambiente no local de montagem, da capacidade de dissipação de calor pela bobina.
Pense nisto na hora de regular a ignição ou substituir seus componentes!

Veja também:
Porque a bobina de ignicao esquentando ou queima
Saiba mais sobre bobinas e modulos de ignição
Solucione defeitos medindo a corrente da bobina de ignição
Defeitos da ignição transistorizada TSZi

Conta-giros automotivos

Conta-giros ou tacômetro (conta-rotações em Portugal) é um acessório muito útil para quem deseja monitorar a rotação do motor de combustão. Com ele o motorista pode fazer a troca de marcha com maior precisão beneficiando-se de uma condução melhor e mais econômica.

Para medir a rotação do motor de ciclo Otto carburado ou injetado com distribuidor, geralmente se retira o sinal de referência do borne 1 (-) da bobina de ignição. Nos carros injetados com bobinas dupla faísca ou individual é mais comum usar o sinal digitalizado fornecido pela UCM e nos carros com motor ciclo Diesel se conecta ao W do alternador.

Neste momento vamos enfocar o princípio de funcionamento do conta-giros para motores carburados ou com distribuidor:
A figura a seguir mostra as etapas básicas de um Contagiros.


No borne 1(-) da bobina de ignição temos o sinal do primário da ignição que através de uma etapa no circuito do conta-giros é convertida em ondas retangulares. Nos conta-giros analógicos a freqüência do sinal é convertida em tensão para acionar o instrumento de ponteiro, um voltímetro graduado em rpm, e nos conta-giros digitais a contagem dos pulsos em um período de tempo regular faz a conversão para os dígitos indicadores da rotação do motor.
Número de cilindros
Impulsos por volta do motor
4 cilindros
2
6 cilindros
3
8 cilindros
4

O quantidade de impulsos no borne 1 da bobina de ignição, veja tabela, depende do números de cilindros do motor, sendo assim os instrumentos precisam estra calibrados para a medição em diferentes motorizações.

É comum a adaptação de conta-giros ou painel com este instrumento, e tomando em conta as diferenças citadas, procure sempre identificar o tipo usado entre: sinal analógico (tipo TN) via bobina de ignição, digital (TD) via módulo de injeção (figura abaixo) ou W (sinal analógico ou digital) do alternador. 
Fonte de sinal digital para conta-giros

No alternador a opção existente é a conexão de sinal analógico em uma das fases do alternador ou digital conectado a uma saída do regulador de tensão tipo multifunção. 
Confira no vídeo uma alternativa de ligação para conta-giros de sinal digital motores Otto para o sistema de ignição eletrônica convencional. 
Qualquer dúvida consulte o fabricante do instrumento ou sua rede de assistência técnica para esclarecimento, uma vez que não está identificado no instrumento.




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Ângulo de permanencia ou dwell
Como testar-o sensor ativo do freio ABS

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A energia da faísca e a alta tensão necessária estão relacionadas com a corrente do primário da bobina de ignição no momento do desligamento, bem como a indutância e a resistência elétrica dos seus enrolamentos.

Para melhorar o rendimento, sobretudo em altas rotações, são usados bobinas de baixa indutância primária que fornecem altas correntes com menores tempos de conexão. A sua combinação com módulos eletrônicos adequados permitem estabelecer a corrente exata de desligamento.

A tabela abaixo mostra o tempo entre duas faíscas consecutivas com base na rotação, número de cilindros do motor e o sistema de ignição em uso.

Tempo entre duas faíscas consecutivas por bobina, motor 4 cil./6000 rpm
Com distribuidor Com bobina dupla faísca Com bobina monofaísca
5 ms 10 ms 20 ms
Somente parte deste tempo, imposto pelo ângulo de permanência, é designado para fazer circular a corrente pelo primário.

Veja a seguir algumas características dos módulos de ignição adaptados com suas respectivas bobinas.

1 – Módulo com controle do ângulo de permanência em função da rotação.

O ângulo de permanência aumenta com a rotação, a corrente primária diminui.
Comumente usado em sistemas com distribuidor e com bobinas de indutância mais elevada, onde o tempo para atingir a corrente de operação, em torno de 3,5 a 4,5 A, é mais longo.
Habitualmente esta bobina possui resistência primária entre 1,2 a 2 Ohms.

Aplicado geralmente em sistemas com distribuidor, a limitação do ângulo de permanência e a redução do tempo entre duas faíscas consecutivas nas altas rotações, geram uma curva decrescente para a disponibilidade de alta tensão.

2 – Módulo com controle do ângulo de permanência e do limite de corrente.

O ângulo de permanência depende da rotação e da tensão da bateria, além de atuar mutuamente com a corrente primária pré-fixada pelo módulo.
Com resistência primária entre 0,7 a 1,0 Ohms, as bobinas têm indutâncias médias e trabalham com correntes de 5 a 6 A.

A disponibilidade de alta tensão é plena durante a partida e até cerca de 4000 rpm, assegurada pela corrente primária que se mantém constante.
Acima desta rotação, em sistema com distribuidor de ignição, à queda da corrente primária imposta pela limitação do ângulo de permanência e consequentemente a diminuição do tempo de carga, reduz a disponibilidade de alta tensão.

3 – Módulo com tempo de ligação constante.

Com um enrolamento primário da ordem de 0,5 Ohms e de baixa indutância, a corrente é limitada entre 5,5 e 7,5 A pelo tempo de conexão que se situa entre 2 a 3 milisegundos.
Nos sistemas com bobinas de dupla faísca ou individual por cilindro podem disponibilizar uma tensão secundária com capacidade máxima em todos os regimes de rotação do motor.

Conclusão:
A corrente da bobina se efetiva de acordo com o módulo aplicado, se não estiverem devidamente harmonizados podem ocorrer: A queima da bobina, danos no módulo ou redução da alta tensão e potência da faísca. Além dos danos causados aos componentes da ignição, a má combustão pode levar à falta de potência no motor, aumento do consumo de combustível e emissões de poluentes.

Veja também:

Diagrama elétrico ignição TSZ-H 142

Diagrama de ligação para as unidades de comando de ignição TZ-H: 0 227 100 142
Borne 1 - Para o borne 1 da bobina de ignição
Borne 2 - Negativo bateria - chassi
Borne 3 - Para o distribuidor de ignição borne (-) do sensor Hall
Borne 4 - Alimentação B+, borne 15 da chave de ignição.
Borne 5 - Para o distribuidor de ignição, borne (+) do sensor Hall
Borne 6 - Para o distribuidor de ignição borne, borne sinal (0) do sensor Hall