Um engano, uma hipótese inconsistente, cabeça quente, e “vualá”, algo simples se torna num pesadelo.
Certa vez me pediram um curso somente com aulas práticas, embora fosse atípico, concordei em fazê-lo.
No local do curso, cuidadosamente preparado, se encontrava um VW – Amazón (Voyage aqui no Brasil) com sistema KE-Jetronic e ignição TZH cujo chicote e módulo estavam esparramados pelo assoalho, lado do passageiro. Em frente ao carro, um MOT 250 e um analisador de quatro gases.
Após as apresentações iniciais e um pouco de lorota para quebrar o gelo, o chefe da oficina me disse que o carro tinha um problema difícil de solucionar e que seria perfeito para a aula. Que providencial, pensei, esboçando apenas um leve sorriso. Deu partida, o motor pegou "de primeira", e então me disse:
- Viu! Com o motor frio é uma maravilha pra pegar, más não funciona com o motor quente. Faz um mês que está assim, já substituí o sistema KE por carburador, e aí sim acaba o problema. Pena que não posso deixar com carburador!
Relaxados, continuamos a conversa enquanto o motor esquentava. Depois de uns 20 minutos desligou o motor que comprovadamente não pegou mais.
Como era um curso prático, pedi para ligassem o equipamento de testes e fizessem todas as medições possíveis, começando pelo sistema de ignição. Dirigi todas as provas ressaltando o uso correto do equipamento e esclarecendo dúvidas. Demorou tempo suficiente para que o motor esfriasse e voltasse a funcionar. Com o motor ligado, sugeri que continuassem com os testes do sistema de ignição. A essa altura eu já havia percebido uma anormalidade potencial para o defeito, más devido ao trabalho passivo, não foi notada pelos participantes. Então, os alertei que deveriam rever as medições e confrontar os resultados com o manual do sistema.
Por fim se deram em conta de que o ângulo de permanência, 65 graus fixo, não enquadrava. Com um sorriso aberto, e numa respirada bem fundo e pausada, retrucou um dos técnicos:
– Ha há... Eu já desconfiava deste módulo de ignição!
Passando o olho pelo grupo, questionei:
– Todos concordam? – Silêncio. E pondo a prova a sua convicção, continuei:
- Por que acredita que seja o módulo?
– Porque a bobina é nova, foi trocada faz pouco tempo. – Retrucou.
– Más ela está correta?
Calados, conferiram a bobina, evidenciando o erro de aplicação e inclusive a falta de atenção ao medir a sua resistência. Substituíram-na e o carro voltou a funcionar perfeitamente.